Um pouco sobre a Moda Brasileira
Não faz muito tempo, a moda brasileira era vista no exterior como algo caricato e secundário. Nos últimos 10 ou 15 foi que um surto criativo acometeu a moda nacional, lançando estilistas, eventos e negócios. Compreender o processo que levou a essa efervescência da moda no Brasil é fundamental para que o processo criativo não se perca. Esse setor do mercado ganhou no país proporções relevantes no que diz respeito à economia e cultura, gerando interesses acerca de sua identidade e importância.
O avanço dos negócios da moda e dos resultados econômicos gerados por eles levam à compreensão desse fenômeno, levando a um estudo mais profundo e fazendo com que a moda seja tratada com mais seriedade nesse país.
Com a globalização, a moda brasileira já não é algo que permanece apenas em terras nacionais; ela é projetada internacionalmente. As modelos brasileiras têm um importante papel na percepção da moda nacional, levando para o exterior uma outra visão de Brasil, embora os estereótipos ainda permaneçam. O jornalista Daniel Piza, do Estado de São Paulo, afirmou que a moda brasileira precisa de análises que ainda não foram feitas, sobre a eterna obsessão nacional pela “identidade”, que acaba se tornando sua própria inimiga. Ele acredita que essa ansiedade de definir um perfil brasileiro “é um essencialismo que não leva a lugar nenhum”; o Brasil tem uma imagem hospitaleira, calorosa e informal, mas isso não precisa ser seguido pelos criadores nacionais, pois é esse fator que impede que a moda brasileira seja percebida como algo que vai além de moda praia.
Fugindo desse estereótipo, alguns estilistas brasileiros optaram por lançar um Brasil mais sofisticado em suas criações. É o caso de Carlos Miele, que após solidificar a M.Officer, decidiu utilizar a cultura brasileira em uma perspectiva mais refinada, criando sua grife de prêt- a-porter de luxo que hoje faz sucesso entre as mulheres mais ricas e elegantes de Nova York. Francisco Costa é outro exemplo de estilista brasileiro escapou da “brasilidade” óbvia. Ele já iniciou sua carreira fora do Brasil e hoje é a mente criativa da Calvin Klein. Costa cria especificamente para o perfil de consumidor que a marca pretende atingir, e afirma que o toque de Brasil que ele insere em suas peças está na leveza e na sensualidade, utilizadas de um modo que não comprometem a imagem e o conceito da Calvin Klein.
Os dois estilistas enxergam a moda como um negócio que tem que gerar dinheiro. A moda brasileira não poderia ficar de fora e, assim, passou a atrair muitos investidores. Dessa forma, as marcas nacionais passaram a precisar de uma administração mais eficiente, o que levou muitos criadores a venderem suas marcas para grandes grupos administrativos. Esse novo fenômeno dos negócios da moda funcionou em muitos casos, no entanto, em outros, por falta de cautela, gerou resultados desastrosos. No fim de 2007 a HLDC anunciou a criação do grupo Identidade Moda, que incluiria grifes como a Zoomp, Alexandre Herchcovitch, Fause Haten, entre outras. A proposta foi considerada como um salto no fashion business brasileiro, mas, aparentemente, não havia capital para tanto. Em março de 2008, Herchcovitch e Fause Haten deixaram o grupo. Alexandre se associou, então, ao grupo Inbrands, formado pela Ellus e pela Pactual Capital Partners. Alexandre Herchcovitch não chegou a completar a negociação, mas a Fause Haten passou a pertencer o HLDC e adquiriu muitas dívidas. A Zoomp, que assinou um contrato de gestão com a administradora de fundos de crédito Global Capital, acabou se afundando em uma grande crise e no começo de 2009 decretou falência, fechando fábricas e lojas em todo o país.
A moda brasileira contemporânea, comparada ao que acontecia há poucos anos atrás, está muito mais profissional. No entanto, ela ainda se prende muito aos limites geográficos e aos estereótipos. Por mais amadurecida que esteja, ainda tem um longo caminho para trilhar até chegar no mesmo nível da moda internacional.
Norberto Runte II Redação
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